quinta-feira, 30 de junho de 2011

A valsa de Alice



PARA OUVIR ENQUANTO LÊ : http://tinyurl.com/69grw9u  
Um dia normal, uma garota normal, a chuva caindo, o céu nublado, mas vamos esquecer de tudo isso, e se eu te dissesse que ela não acredita no para sempre?
Pois é, mas sem melancolia, por favor, é só uma arma que ela escolheu e se quer saber ela vive muito bem assim.
Ela tem uma rotina bem planejada, caminha de manhã, antes da escola, ouve músicas à tarde, tem uma agenda com os filmes que quer assistir até o fim do ano, uma tabela de sabores exóticos de chocolate que quer provar e algumas – muitas – horas dedicadas à leitura.
Num dos dias normais, numa das caminhadas matinais, ela conheceu Felippe, um jovem de vinte-e-poucos anos, com cabelos caídos nos olhos e bagunçados, com uma expressão de confusão que é muito atraente à garotas que tem os olhos como os dela.
Se eu te dissesse que foi amor à primeira vista eu estaria mentindo feio, foi só atração, uma atração bem forte.
Ele virou seu anjo da guarda, como ela dizia, mas era uma relação sem amor, pelo menos do ponto de vista dela, eles corriam matinalmente, comiam chocolates exóticos todo o fim de semana, assistiam filmes de produções alternativas todo o fim de tarde e trocavam caixas de livros de contos periodicamente.
As coisas não se desgastavam, ela foi enjoando disso, ele resolvia os problemas dela, emprestava-lhe o casaco em dias de chuva, chamava-a de “minha”, gostava de tirar fotos, e toda aquela melação descontrolada foi cansando Alice, que de uns tempos para cá só o procurava em caso de precisar de ajuda pra resolver alguma coisa.
Ela começou a alegar cansaço às manhãs, tinha provas de mais nesse final de bimestre, tinha dois livros para terminar de ler, uma vida inteira pra viver, viagens a fazer... e não haveria mais tempo para ele na sua agenda, que pena, que pena.

Ele agüentou tudo numa boa, pelo menos superficialmente, e agora ele era do tipo de pessoas que não amava, assim como ela.
Na maioria do tempo ela não precisava de ninguém, lidava bem com a solidão, gostava de observar o nascer do sol nos dias frios, com uma xícara de qualquer coisa bem quente entre os dedos, apenas bem de vez em quando batia uma saudade de ter à quem correr quando acontecesse alguma coisa, quando o mundo estivesse caindo em  gotas de água e ela estivesse desprevenidamente sem guarda-chuva, mas no fim das contas era bom, ela nem se lembrava mais de quando tivera o coração levado, mas não doía mais, a vida dela fluía como uma linda valsa .

terça-feira, 28 de junho de 2011

De quantos “para sempre” uma pessoa é capaz de viver?


Se o “para sempre” fosse realizado, ninguém gostaria de, de fato, vivê-lo. Imagine conviver com algo até o fim de seus dias, sem a mínima possibilidade de viver algo parecido ou completamente diferente em outros momentos de sua vida? Imagine compartilhar de toda essa experiência com uma única pessoa sem a opção remota de conviver e aprender com outros amores? Pois bem, o para sempre não poderia ser realizado, porque se não seriamos obrigados a conviver com algo repetitivamente por todos os dias de nossa vida sem a menor chance de mudarmos e sermos diferentes.
Já pensou também se os sentimentos nunca chegassem ao fim? Se todo amor que você diz sentir nunca esfriasse te privando da alegria de viver outros momentos e outros sentimentos com outras pessoas? Já pensou se nós vivêssemos para sempre? Sempre acreditei que melhor que todos os “meios” de tudo que podemos viver, existe o começo. A dúvida do tempo, a certeza de um início e as descobertas de algo completamente novo. Para que se estagnar na perspectiva de conviver eternamente com tudo exatamente igual? Que graça teria a vida?
Os dias sempre hão de passar de um jeito ou de outro e os milhares de ciclos que nossa vida forma hão de repetir quer você queira ou não. Porque o amor tem seu fim. E tudo isso que a gente vive também vai acabar mais cedo ou mais tarde. Aproveitar o “enquanto dure” é melhor do que concentrar-se no fim ou acreditar que vai ser pra sempre. Porque nunca é.
É para sempre enquanto continuar a existir e virão milhares de outras eternidades por toda sua vida, cada uma com seu tempo e com sua intensidade estabelecida pelo tempo que nosso coração mandar. As coisas mudam, os sentimentos acabam e as pessoas constroem “para sempre” todos os dias. A gente nunca quer que um capítulo se encerre, mas acreditar que continuar parado exatamente no mesmo lugar e na mesma situação seja a melhor saída não é uma opção interessante. E disso a gente sabe.
Vivemos de quantos “para sempre” nosso coração aguentar e nossos sentimentos permitirem. Não fomos feitos para sermos tachados de eternos. Somos feitos para fazer durar e mudar sempre que for necessário. Somos formados de infinitos “para sempre” que terão seus términos definidos assim que nosso inconsciente achar que basta. E ele, você acreditando ou não, sempre sabe a hora de dizer que acabou.

Sem fugir do clichê

Eu poderia tentar fugir do banal que é falar sobre tudo que a vida me ensinou ou sobre tudo que ela tenta me ensinar, mas ela insiste em me surpreender a cada minuto que decorre nesses dias. Eu poderia falar do que é viver nessa sociedade que exige mais e mais a cada dia, mas aí eu permaneceria em volta de todo esse eterno clichê que todos nós tentamos fugir em quase todos os momentos.

E fugir desses tormentos sociais e de tudo que a vida tenta nos ensinar é um tanto errado, afinal a vida se torna uma eterna aventura a partir do momento que não temos medo de ousar em nossas atitudes e enfrentar tudo isso. “E aceitar que a vida não vem com manual de instruções” como já dizia Martha Medeiros.
 A vida é simples, bem simples. Não tente tornar a sua complicada. Aprenda que sua felicidade depende única e diretamente de você e que os outros são os outros. E que esses milhares de rótulos que a sociedade tenta impor não devem influenciar no sorriso estampado em seu rosto. Desistir pelo o que te faz feliz não é viver, é se render a uma sociedade um tanto estereotipada. Sonhar nunca é demais e saber a linha tênue que deve existir entre o imaginário e o real é mais do que necessário. Respeitar (os seus) limites. Respeitar os limites do próximo. Acreditar em si própria e duvidar da maioria. Tampar ouvidos para conselhos inúteis e tomar a frente da situação. Aceitar que o tempo sabe o que faz e que todas essas dúvidas que nos aparecem só aparecem exatamente porque somos preparadas o suficiente pra decidir com firmeza. Mesmo que seja o maior equivoco da nossa vida. Aprenda, também, que nada é tão grande que possa ser o “maior da nossa vida” ou tão forte que dure para sempre.

 Isso todas nós sabemos, mas esquecemos de colocar em prática diversas vezes. E essa vida aí fora é dos que arriscam, dos que tentam e dos que são fortes o suficiente para erguer a cabeça, olhar para trás com saudade, mas com toda vontade e ação de quem quer seguir em frente. Fugir do clichê? Que nada. Essa é a vida. Ninguém disse que é fácil, só que vale a pena tentar.